Foco tem o prazer de propor, em sua quinta participação, um diálogo entre quatro artistas representados pela galeria: Maria Appleton, Manuel Tainha, Francisco Trêpa e Márcio Vilela. Cada um traz uma perspectiva e uma metodologia distintas, mas seus trabalhos ressoam de maneiras sutis, gerando uma reflexão sobre materialidade, percepção e natureza.
Em lados opostos do estande, as obras de Appleton e Tainha parecem se encarar. Ambos utilizam têxteis, mas de formas radicalmente diferentes. A prática de Appleton explora as interseções entre cor, forma e percepção espacial por meio de tingimento, tecelagem e serigrafia. Ela investiga a subjetividade embutida nos sistemas urbanos e a relação entre as estruturas têxteis e a luz, criando frequentemente composições cromáticas em camadas sobre algodão, seda e tecidos industriais. As obras apresentadas em Madri fazem parte de sua exposição What Holds the Structure. O título tanto questiona quanto afirma que, por trás de todas as coisas (mesmo por trás da própria estrutura), há algo que sustenta a realidade em um equilíbrio caótico: algo difícil de compreender, mas tangível ao toque.
Em contraste, Manuel Tainha examina as próprias condições da composição, explorando adição e subtração, bem como a tensão entre superfície e objeto. Seu trabalho está enraizado no significado cultural dos materiais, nos limites da restrição e na violência implícita na criação. Temas de domesticidade também emergem, situando sua prática em um espaço onde matéria e gesto negociam continuamente entre si.
O estande também aborda a questão da natureza, por meio das obras de Francisco Trêpa e Márcio Vilela. Trêpa, que recentemente inaugurou uma exposição individual no CAM Gulbenkian, desenvolve uma prática definida por uma relação inquieta com a matéria. Elementos plásticos e imaginativos geram universos em constante metamorfose, oferecendo reflexões sobre paisagens, sonhos e a instabilidade do material. Através do que poderia ser descrito como uma estética barroca de ficção científica, ele funde sensibilidades ornamentadas com pensamento especulativo, questionando binarismos entre natureza e artifício, ordem e caos, permanência e dissolução.
Vilela, por outro lado, aborda a natureza como encontro. Sua série fotográfica Superflora, produzida nas florestas ao redor do Recife, documenta um dos últimos remanescentes da Mata Atlântica. A série fala sobre descobertas feitas ao caminhar pela floresta, sobre nichos que aparecem e desaparecem com a luz teatral e cambiante. Para o artista, os próprios objetos revelam sua presença, concedendo permissão para serem fotografados. Seu trabalho destaca uma poética da atenção e da reciprocidade, em que a fotografia se torna um ato de escuta, e não de captura.