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Friend and Foe
Bartolomeu Santos
[19/09/24 - 19/10/24]

A Galeria Foco apresenta Friend and Foe, uma exposição individual de Bartolomeu Santos.
Curadoria de Julia Flamingo.
Inauguração: 19 de setembro | 18h-22h

“Escolhi homenagear os amigos”, escreveu-me o artista. Ele logo disse não saber a definição de amizade e admitiu que o assunto da sua próxima exposição partia de um grande chavão. As relações vão-se moldando com o passar dos anos, e dar nomes para o indefinido é tarefa descabida. Mas é justamente aquilo o que não tem definição que Bartolomeu Santos deseja abordar em sua nova série de trabalhos: o que transborda limites, a vida em expansão descontrolada, a obra em constante transformação. “Friend and Foe está a ficar bom para mim”, afirmou ele. Amigo, inimigo, e o universo que existe entre um e outro. Afinal, não temos tudo isso dentro de nós? 

As obras de arte possibilitam que as relações mais complexas e ambíguas ganhem forma, nem tanto para defini-las como para sustentá-las. Olhar para a escultura de David de Verrocchio, que triunfa sobre a cabeça de Golias, faz, claro, pensar no lado moral e político que ela representa: um delicado herói que acaba de decapitar o violento gigante (“tamanho não é documento”, diz o bordão). Mas, mais do que isso, faz questionar: o David de hoje não é o Golias de amanhã? Ou, ainda: não serão os dois a mesma pessoa? 

No meio do caminho entre controle e descontrole, obras prontas e em processo, pintura e escultura, Bartolomeu Santos nos convida a conhecer o seu universo repleto de dúvidas e de pequenas certezas. As esponjas, principal material da sua obra, são moldáveis, flexíveis e absorventes, muito como deveria ser a nossa existência. Em séries de trabalhos anteriores, as esponjas eram protegidas por caixas de acrílico ou presas a vácuo dentro de sacos plásticos. Nesta exposição, as esponjas expandem-se e ocupam o espaço da Galeria FOCO, de maneira semelhante a como tomam grande parte do ateliê do artista. 

Nos seus trabalhos, materiais cotidianos “à mão de semear” são metáforas para o desenrolar da vida, que se desdobra a partir de encontros imprevistos. “Quando nós temos um objectivo muito claro, com um percurso muito certo, sem desvios, sem margem para distração, arriscamo-nos a não conseguir criar aquela magia que está tão associada ao estarmos vivos”, escreveu ele outra vez. 

O valor dado ao processo, à tentativa e erro, ao voltar atrás e recomeçar, ganha força na metalinguagem tão presente no trabalho de Bartolomeu. Suas obras são criadas com utensílios do seu ateliê que, no final, são incorporados às próprias obras de arte. As esculturas-pinturas feitas de materiais transitórios fazem também refletir sobre a ideia da arte como monumento. A sua escultura, porém, está muito mais próxima do processual, do cotidiano, do “fazedor de remendo” que, de pouco a pouco, vai conseguindo que as coisas deem certo.