« Nem eu, nem ninguém pode viajar naquela estrada no teu lugar. Deves viajar por ti mesmo.
Não é distante. Está dentro do alcance.
Talvez tenhas estado lá desde que nasceste, e não sabias. Talvez esteja em toda a parte – na água e na terra.»
Canto de Mim Mesmo de Walt Whitman (1892).
A exposição Génese na galeria Foco é uma viagem sem fim, uma viagem que ultrapassa todos os mapas e guias. Uma viagem que pode parecer familiar. Uma estrada que talvez já tenhamos adoptado. Os artistas imergem-nos nesta experiência. Nós, espectadores, oscilamos entre a sensação de uma primeira vez e de um déjà vu.
Génese é uma questão, mas também várias respostas pela pluralidade das práticas e dos olhares dos quatro artistas convidados. É um panfleto ou um manifesto: o mundo não se constrói de cima para baixo. Mesmo degradado, deste mundo pode nascer uma nova vida. As obras invocam o intangível, o espiritual, a experiência sensorial e extra-sensorial como memorial. Os estímulos têm todos como ponto de partida um elemento natural: a luz, a temperatura, o som, a terra, a água… O objectivo não é a documentação, mas sim de mostrar como as obras, cada uma à sua maneira, permitem uma compreensão mais profunda e mais particular da nossa necessidade de explicar e compreender o mundo.
Cada um dos artistas solicita o nosso imaginário para desenhar relações orgânicas que depassam a experiência humana. Através das suas esculturas apresentadas, Ana + Betânia evocam as novas formas de vida subtis que se criam a partir das ruínas do nosso mundo, aos céus como na Terra. Para esta viagem iniciática, traços, tempo, luz e escrita interligam-se nas duas obras de Hugo Cantegrel e propõem o horizonte como objectivo.
As fotografias de Paula Guimarães, sobreposições de paisagens, são uma ode a um universo dominado pela natureza e pelos seres femininos.
Quanto às obras proteiformes de Pauline Guerrier, fiéis à tradição da sua prática, onde a experiência estética se assemelha a uma meditação. Em todas elas permanece o rasto da paisagem, da terra, da montanha e da lua.
Em conjunto ou sozinhas, as obras tornam-se evocações de uma forma de resistência para persistir e existir, como uma nova génese.
Jeanne Mercier