«Todas as imagens desaparecerão. (…) Imagens em que aparecemos como uma menininha no meio de outros seres já desaparecidos antes de sermos nascidos, assim como nas nossas memórias estão presentes os nossos filhos pequenos ao lado dos nossos pais e dos nossos colegas de escola. E um dia estaremos nós também nas memórias dos nossos filhos, no meio de netos e pessoas que ainda não nasceram. Tal como o desejo sexual, a memória nunca pára. Ela conjuga os mortos com os vivos, seres reais com imaginários, sonho com história»
Annie Ernaux, Os anos, 2008
«Tu lembrar-te-ás” significa «Tu continuarás a narrar».
HELL WHAT A VIEW é tanto um espaço como um momento em que reconsideramos a elaboração da memória, da sua encenação – em acto. Os sonhos não são mais que leves brisas tingidas de cores que se evaporam. As luzes suaves do crepúsculo e do amanhecer são uma só. Memórias antigas ressurgem. Não é o passado tão vivo quanto o presente? Pela janela contempla-se, lembra- se; o tempo já parou.
Um vínculo material é tecido entre o presente e o passado, transportando-nos para uma realidade tangível e abstrata, uma realidade já passada, dissolvida. Para Hugo Cantegrel, cada obra da exposição existe somente através do seu contexto único, referindo-se apenas a si mesma, à sua própria memória. Da instalação à performance, passando pela escrita, fotografia e pintura, Hugo Cantegrel convida-nos a mergulhar de novo, com alguma nostalgia, na nossa infância. Para o artista, é através de entidades visuais e textuais que a memória se compõe, se recompõe, e influencia tanto o nosso passado como o presente. A memória é um elo entre vivo e morto, sonho e história, real e imaginário.
Aude Vignac