Sedução e outros exercícios
Jogar com o espaço é sempre arriscado.
Esticar ou cortar as tecituras das proximidades e distâncias. Inserir, de forma forçada ou não, uma presença, ou escavar uma ausência. Estreitar ou expandir o intervalo necessário para um sopro. Estas são só algumas de todas as possíveis intervenções.
Jogar com o espaço nunca é, simplesmente, uma pesquisa insuspeita e inocente, ou uma observação descomprometida por um olhar distante. Quase inevitavelmente, é uma tentativa de agarrar, de segurar, mesmo que inconscientemente, uma presa, uma subtil caça, uma escalada até uma armadilha, uma vontade de ocupação.
Às vezes só o ato de mover através do espaço chega a ser arriscado: negociar a aproximação ou a retirada, o ritmo de avanço e recuo, balançando numa corda de forma mais ou menos arrojada, mais ou menos delicada – uma escolha contínua entre atração e medo.
Claro que o espaço não é a mera extensão, mas uma relação, uma arquitetura construída na topografia submersa dos afetos. Há uma ambiguidade persistente num espaço assim entendido, no seu mapa mutável e nas inversões dos supostos “dentro” e “fora” (as fronteiras fluidas entre o “eu” e o “tu” , o toque e a garra).
É, assim, um espaço que não pode ser capturado ou domado. Como o mar que trata tudo por igual: um labirinto subaquático que tudo engole, formado na sua base por uma abertura-sem-fim – a boca do vento, uma passagem sem propósito nem consequência.
Mas é só nas aberturas, sítios voláteis de captura e troca (bocas que tanto encantam como aterrorizam, corpos expostos que repelem tanto como atraem, pontos de alternada entrada e saída, não só das vísceras e da superfície, mas das suas extensões extra e meta-físicas) que o encontro pode ter lugar.
E é a coreografia oscilante da liberdade – na simultânea atração e afastamento, recusa e abraço – que, neste terreno movediço de risco, sustém o espaço.
Maša Tomšič