Galeria Foco tem o prazer de apresentar Peito contra as costas, a segunda exposição individual de Manuel Tainha.
Inauguração: 8 de fevereiro às 18h.
O PEITO CONTRA AS COSTAS
Dizem que, num dia de céu aberto, é possível ver para sempre
a palavra ruína a deslizar mais facilmente da língua do que
ar qui tec tura, pesando
perigosamente na tua garganta. Permanência nunca foi pensada para ser proferida como auxiliar de memória: um lembrete súbito que fazer invisível não torna
ausente.
o peito contra as costas coração
contra as costelas costas
contra
contra a
parede a primeira parede antes do início, a ceder rapidamente o seu estatuto arquitetónico por uma divisão silenciosa
do que está aqui
e
aí
um mapa da urgência em desenhar o mundo entre
eu e
tu. Às vezes penso se já experienciaste o tempo
em torno das margens. Não tenho a certeza. Pertence ao futuro, ou ao passado? A nenhum. Tenta
um não-lugar em espiral descrito contra
a persistência do pó nas roupas que costumavas vestir, ecos de metal em metal, a acumulação
tácita de cortes de papel nos dedos emoldurada como trabalho,
não violência – um vocabulário que só a erosão conhece.
perguntaste-me que hora é este lugar. Sabes,
a idea do futuro parece ser formada algures antes da ideia de passado
antes
de conseguires murmurar vale do silêncio como frase completa, já sabias como a agarrar. Afinal,
o impacto físico sempre foi o modo mais cortante de relembrar:
rasgando
espinhas de livros que quiseste proteger calor
corporal a manchar páginas beijadas pelo tempo descobrindo
a maleabilidade da resistência a ternura da compressão a violência da permanência espalhada pela
tensão das tuas mãos. Espero que isto te seja útil
por algum tempo.
enquanto tentas sincronizar memórias com vislumbres do passado a alta velocidade, lembra-te
a mais duradoura das narrativas é vivida através de ruínas,
imagens-fantasma legendadas como desejo,
a desaparecer à frente dos teus olhos
punhos cerrados joelhos escurecidos peito
ainda
contra as costas.
Inês Mena Silva