Entre no espaço da galeria. Ao atravessar a metade do caminho, passa do olhar para as pinturas para o estar dentro de uma pintura. Preste atenção às texturas, cores e camadas que o rodeiam. Qual é a sensação? O espaço da galeria foi transformado numa instalação espacial imersiva composta por telas, pinturas e fragmentos de linhas, colocando o espectador num devaneio flutuante. Aqui as referências visuais de Manuel Tainha chegam aos desenhos de Hans e Sophie Arp e imagens de peixe cru fatiado. A experiência da sua obra ultrapassa os limites da pintura, criando uma sensação crua de fusão de camadas de materiais e imagens.
O processo criativo de Tainha é bastante bruto. Ao mergulhar vários materiais em lixívia e expô-los ao seu ambiente circundante, como a exposição à luz solar ou a garrafas de cerveja, as suas obras ganham composições peculiares. Os têxteis comuns tornam-se uma obra de arte, dando-lhes um novo sentido, e iniciam um diálogo sobre a mudança de significado dos objectos de arte com as mudanças forjadas pelo tempo e pelo valor de mercado. Vivendo na atmosfera actual que obriga a uma corrida constante pela inovação e superprodução em prol de ganhos económicos, a produção artística de Tainha posiciona-se como uma curiosa representação do lavor.
Salmão Fingido reflecte sobre o papel significativo do espaço da galeria, o trabalho do processo criativo, o valor dos objectos. Em sentido lato, estes são os elementos que constituem a obra de Tainha. O Salmão Fingido – prato popular da classe média portuguesa – é usado como metáfora das expectativas aspiracionais versus realidades materiais. Tainha utiliza estes objectos culturais para provocar questões sobre falsidade, ingenuidade e acesso a matérias-primas no mundo de hoje.
O Salmão Fingido é feito com restos de peixe branco cozido, molho de tomate, ovos e natas com maionese, rabanete e alface, adicionados como guarnições.
Curadoria de Kasia Sobczak
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