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Superflora
Márcio Vilela
[20/01/22 - 12/03/22]

Foco Galeria Superflora

Vista da Exposição

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Vista da Exposição

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Vista da Exposição

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Vista da Exposição

Foco Galeria Superflora

Superflora #6, 2021

Impressão Fine art sob papel Baryta Hahnemühl, Moldura Nielsen, Vidro Museu 

150×200 cm  | Ed. 6 + 1 P.A. 

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Superflora #6, 2021

Impressão Fine art sob papel Baryta Hahnemühl, Moldura Nielsen, Vidro Museu

150×200 cm  | Ed. 6 + 1 P.A.

Foco Galeria Superflora

Superflora #6, 2021

Impressão Fine art sob papel Baryta Hahnemühl, Moldura Nielsen, Vidro Museu

150×200 cm  | Ed. 6 + 1 P.A.

Foco Galeria Superflora

Superflora #3, 2021

Impressão Fine art sob papel Baryta Hahnemühl, Moldura Nielsen, Vidro Museu

150×120 cm  | Ed. 6 + 1 P.A.

Foco Galeria Superflora

Superflora #3, 2021

Impressão Fine art sob papel Baryta Hahnemühl, Moldura Nielsen, Vidro Museu

150×120 cm  | Ed. 6 + 1 P.A.

Foco Galeria Superflora

Superflora #4, 2021

Impressão Fine art sob papel Baryta Hahnemühl, Moldura Nielsen, Vidro Museu

150×200 cm  | Ed. 6 + 1 P.A.

Foco Galeria Superflora

Superflora #4, 2021

Impressão Fine art sob papel Baryta Hahnemühl, Moldura Nielsen, Vidro Museu

150×200 cm  | Ed. 6 + 1 P.A.

Foco Galeria Superflora

Vista da Exposição

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Vista da Exposição

Foco Galeria Superflora

Superflora #02, 2021

Impressão Fine art sob papel Baryta Hahnemühl, Moldura Nielsen, Vidro Museu

120×150 cm | Ed. 6 + 1 P.A. 

Foco Galeria Superflora

Vista da Exposição

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Superflora #01, 2021

Impressão Fine art sob papel Baryta Hahnemühl, Moldura Nielsen, Vidro Museu

120×150 cm | Ed. 6 + 1 P.A. 

Foco Galeria Superflora

Superflora #07, 2021

Impressão Fine art sob papel Baryta Hahnemühl, Moldura Nielsen, Vidro Museu

120×150 cm | Ed. 6 + 1 P.A. 

Foco Galeria Superflora

Vista da Exposição

Foco Galeria Superflora

Superflora #5, 2021

Impressão Fine art sob papel Baryta Hahnemühl, Moldura Nielsen, Vidro Museu

80×100 cm | Ed. 6 + 1 P.A. 

Foco Galeria Superflora

Vista da Exposição

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Foco Galeria Superflora

Superflora #08, 2021

Impressão Fine art sob papel Baryta Hahnemühl, Moldura Nielsen, Vidro Museu

120×150 cm | Ed. 6 + 1 P.A. 

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Superflora #09, 2021

Impressão Fine art sob papel Baryta Hahnemühl, Moldura Nielsen, Vidro Museu

120×150 cm | Ed. 6 + 1 P.A.

A língua que não podemos falar, mas ainda assim, chega até nós

sobre Superflora de Márcio Vilela 

Há mil maneiras de dizer não à mudança, de disputar o coletivo a favor de uma missão privada para transcender tudo o que é partilhado. Um dos métodos de negação é a busca da desconexão dos elementos, do repúdio da terra, do ar, do fogo, da água e do éter. A afirmação do eu humano singular como o auge da evolução emerge de uma longa tradição ocidental de ilusão. Como pode existir qualquer pessoa sem as referências massivas interligadas de outros seres vivos? A humanidade está confinada à linguagem e aos sistemas de tradução. Uma das deficiências da linguagem é o perpétuo regresso ao “anthro”. Os povos indígenas de todo o planeta, têm em comum cosmologias que dão “voz” à natureza. Uma verdadeira voz. Isto não é algo a ser assumido ou menosprezado. Se nós, enquanto humanos, falamos um conjunto muito limitado de línguas, imaginemos o que isso significa para a nossa capacidade de compreender o que está realmente a acontecer à nossa volta. 

Nas lúcidas palavras da recentemente falecida Joan Didion: “contamos a nós próprios, histórias para podermos viver… Interpretamos o que vemos, selecionamos a mais viável das múltiplas escolhas. Vivemos inteiramente, especialmente se formos escritores, pela imposição de uma linha narrativa sobre imagens díspares, pelas “ideias” com as quais aprendemos a paralisar a fantasmagoria em mutação que é a nossa experiência real”. Estas narrativas a que Didion se refere, são a própria substância do que permite à humanidade prosseguir uma agenda que subverte, oprime, e escraviza os mundos da natureza. São narrativas de progresso, do fosso crescente entre o momento presente e o esquema capitalista. São também narrativas que glorificam a natureza a tal ponto que esta se torna inacessível. 

E como é que a arte e o fazer artístico contribuem para esta equação que afirma a primazia do humano e da experiência humana? Em muitos aspetos, a arte é o grande mediador, o fluido no qual o eu se dissolve enquanto permanece detetável. Tudo isto para dizer que, quando um artista está disposto a desaparecer, algo muito especial acontece. Eis alguns provérbios e afirmações que atestam o criativo e o omnipresente na natureza, que implicam o desaparecimento iluminado do singular “autor”.

Lakota : O coração do homem longe da natureza torna-se duro. (Standing Bear)

Navajo: As montanhas, eu torno-me parte delas… As brumas da manhã, as nuvens, as águas de encontro, eu torno-me parte delas. (provérbio)

Mazatec: Cure-se a si próprio, com as folhas de hortelã e de menta, com o neem e o eucalipto. Adoce-se com lavanda, alecrim e camomila. (Maria Sabina)

Krenak: “Filho, silêncio”. A Terra está a dizer isto à humanidade. E ela é tão maravilhosa que… ela não está a dar uma ordem. Ela está simplesmente a pedir: “Silêncio”. Este é também o significado de recordação. (Ailton Krenak)

Maasai: A floresta tem ouvidos. (provérbio)

Márcio Vilela, com a sua prática imersiva que o trouxe profundamente em contacto com a selva no coração de Recife, acrescentaria a esta lista de adágios. Ele disse uma vez que enquanto caminhava de lugar em lugar neste ambiente, que a dada altura sentiu que lhe foi “ concedida permissão”, o que lhe abriu o espaço para começar a fotografar. As obras que vemos na Galeria Foco são prova deste convite para entrar numa relação íntima com o verde, com as texturas, com a luz, com as sombras, e com as vibrações que o rodeiam. Vilela partilha uma linhagem com Andy Goldsworthy e Robert Smithson, com Ansel Adams e Tina Modotti. Estes são artistas que passaram tempo, religiosamente, no exterior. Vilela, com Superflora, transmite que a fotografia não precisa de ser dividida em categorias que se desviem ou regressem ao “retrato” ou ao “documentário”. Esta dualidade tem definido a análise da fotografia durante muitos anos, e Vilela incuba uma alternativa. Porquê? Os sujeitos das suas fotografias falaram. Ele pode não ter falado a sua língua na totalidade, mas ainda assim, chegou até ele. Superflora é uma afirmação de mudança e por isso é uma forma de meditação. Este projeto vai continuar, talvez não nas florestas do Brasil, mas noutras regiões selvagens que se abrem aos olhos e ao coração. Fora das tradições terrestres e fotográficas, Vilela habita outro cânone, o do curandeiro/a. Fora das tradições terrestres e fotográficas, Vilela habita outro cânone, o do curandeiro/mulher.  O veneno e o remédio vivem sempre um ao lado do outro, e Vilela está consciente deste princípio. O seu trabalho, revela assim os maiores processos cíclicos de cura, nos quais participam, tanto os seres humanos, como os mundos da natureza.

– Josseline Black

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