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Lisboa Não Sejas Francesa – Parte 2 | Foco Lisboa
Alice Guittard + Anne-Charlotte Finel + John Fou + Laura Garcia Karras + Lou Masduraud + Marion Flament + Matisse Mesnil + Max Coulon + Sarah Valente + Ugo Schildge + Vincent Voillat
[03/04/25 - 10/05/25]

Foco Galeria Lisboa Não Sejas Francesa  – Parte 2 | Foco Lisboa

Vista da Exposição

Temos o prazer de vos convidar para a segunda parte da exposição Intercultural entre a França e Portugal – Lisboa Não Seja Francesa.

Em continuidade com a primeira parte inaugurada na L’Atlas em Paris, onde 13 artistas a viver e trabalhar em Lisboa oferecem ao público francês um olhar artístico sobre a sua cidade através de diversas expressões, chega agora a vez de 11 artistas franceses partilharem a sua pratica artística com o público português.

Através desta dupla exposição, Lisboa e Paris não se opõem, mas entram em ressonância. Lisboa Não Seja Francesa convida os visitantes a questionar a influência das cidades sobre os artistas, a observar como as identidades se transformam através dos diálogos culturais e a encarar a arte como uma ponte entre passado e futuro, tradição e renovação.

Não te esqueças do que és feito

Era uma vez, numa cidade grande o suficiente para conter mais do que uma praça,
uma fonte e uma vela.
Todos os dias, criaturas reuniam-se à sua volta, algumas com pelagem semelhante ao crepúsculo e dentes minerais,
outras com penas e bicos de aço,
e algumas que pareciam macias, mas eram feitas de betão.

E depois havia outras, rugosas e ondulantes,
cujos olhos opalescentes cintilavam com luzes rosa, azul e amarela.
Eram elas que se juntavam nas águas escuras, como um presságio.

Muitas, no entanto, eram feitas de raiz, caule e folha.
Seus corpos moviam-se pelo perfume, sussurrando na noite,
esticando padrões intrincados de seiva, pétala e fruto em direção à luz do sol.

Todos os dias, as águas abriam-se e fechavam-se, enchendo lagos e poços.
Os habitantes eram atraídos pelo pulsar da fonte e expirados pelo sopro ardente da vela.
Gostavam de tudo aquilo. Bebiam a água. Bebiam a luz. Dançavam em círculos.
E depois recolhiam-se mecanicamente ao ritmo da vida quotidiana.

No início, as sombras vieram suavemente.
Os seres-vegetais foram os primeiros a notar, ervas, arbustos e flores inclinaram-se impercetivelmente.
Uma dobra no ar. Um arrepio subtil. Seria uma falha?

A vida continuava a desenrolar-se. Era fácil ignorar.
Os cidadãos mantinham-se ocupados, brincando, exercitando-se, aninhando-se uns nos outros.
Para além de se sentar ao sol, quem tem tempo para refletir?

Mas os seres de pelagem, de penas, de betão e os rugosos acabaram por perceber.
Houve espanto, confrontos e momentos de paralisia.
Por que é que as nossas almas estavam a perder o brilho?

O que se seguiu foi uma fantasmagoria de mistério.
Mas continha coração, o que fez com que as respostas não fossem procuradas ao longe, mas reveladas no mais profundo.
E o que aconteceu depois foi uma demonstração do que vive dentro de nós.

A fonte e a vela reagiram rapidamente.
Passaram uma à outra a luz. Ela transformou-se,
e tornou-se numa miríade de pirilampos.

Os cidadãos abriram os seus peitos como santuários. As pequenas luzes de estrelas assentaram-se ali.
Havia recantos altos e baixos. Alguns brilhavam até mesmo à vista de todos.

Diz-se que o perigo ainda pairou nas sombras por muito tempo depois.
Mas as chamas só cresceram.

Com cada conexão, cada intenção, cada pensamento amoroso,
nunca se esqueceram de cuidar do seu brilho interior.

Cristina Sanchez-Kozyreva