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I am Curious Blue
Rui Palma + Kuril Chto
[06/07/23 - 25/07/23]

Foco Galeria I am Curious Blue

Vista da Exposição

Foco Galeria I am Curious Blue

Blue Chair XXL, 2023 | Kuril Chto

Fibra de vidro, espuma de montagem, esferovite, poliuretano acrílico

250x170x160 cm

Foco Galeria I am Curious Blue

Javier, 2021 | Rui Palma

Impressão Fine art, moldura de pinho com vidro museu

33×43 cm | Ed.3

Foco Galeria I am Curious Blue

Vista da Exposição

Foco Galeria I am Curious Blue

Untitled I, 2021 | Rui Palma

Impressão Fine art, moldura de alumínio com vidro museu

125×88 cm | Ed.3

Fonte da Telha, 2021 | Rui Palma

Impressão Fine art, moldura de alumínio preto com vidro museu

125×84 cm | Ed.3

Foco Galeria I am Curious Blue

Blue Chair, 2023 | Kuril Chto

Óleo sobre tela

150×100 cm

Foco Galeria I am Curious Blue

Blue Chair, 2023 | Kuril Chto

Óleo sobre tela

150×100 cm

Foco Galeria I am Curious Blue

Vista da Exposição

Foco Galeria I am Curious Blue

Salmon and purée,  2021 | Kuril Chto feat. Militsa Kroshkina

video | 01m26 s

Foco Galeria I am Curious Blue

Vista da Exposição

Foco Galeria I am Curious Blue

Frederico, 2023

Impressão Fine art, moldura de madeira laqueada com vidro museu

32×25 cm 

Foco Galeria I am Curious Blue

Vista da Exposição

Foco Galeria I am Curious Blue

Washed, 2023 | Kuril Chto

Bronze areado

40x34x33 cm

Foco Galeria I am Curious Blue

Crystal Swan Under the Sun, 2023 | Rui Palma

video , som em colaboração com Afonso Horta

09min

Foco Galeria I am Curious Blue

Crystal Swan Under the Sun, 2023 | Rui Palma

video,  sound in collaboration with Afonso Horta

video , som em colaboração com Afonso Horta

09min

Foco Galeria I am Curious Blue

Vista da Exposição

Foco Galeria I am Curious Blue

Rude, 2023 | Kuril Chto

Bronze bruto

40x34x33 cm

Foco Galeria I am Curious Blue

Combed, 2023 | Kuril Chto

Bronze pintado

40x34x33 cm 

Foco Galeria I am Curious Blue

Vista da Exposição

Foco Galeria I am Curious Blue

Tiago, 2023 | Rui Palma

Impressão Fine art, moldura de alumínio com vidro museu

80×54,5 cm | Ed.3 

Foco Galeria I am Curious Blue

Chair in a wild, 2022 | Kuril Chto

Vídeo, som

07min02s

Foco Galeria I am Curious Blue

Chair in a wild, 2022 | Kuril Chto

Vídeo, som

07min02s

Foco Galeria I am Curious Blue

Chair in a wild, 2022 | Kuril Chto

Vídeo, som

07min02s

I am Curious Blue

É quase impossível separar a história do corpo da história da sexualidade. Não existe um método analítico preciso que consiga escapar às dificuldades desta genealogia, considerando que o corpo está vivo e a história está morta. A arte exerce o seu direito de visualizar e mapear esta genealogia no presente e no futuro.

Quando pensamos em sexo, confrontamo-nos com as nossas noções habituais de desejo que se inserem no regime pós-fordista do capitalismo neoliberal. De certo modo, um futuro que ofereça um ambiente seguro e afetuoso para o corpo, implica a promulgação de um padrão de libido colectiva muito diferente. As últimas conferências de Mark Fisher1 oferecem-nos esta noção como uma necessidade. Coloca-se a questão: qual a libido que não precisa de ser satisfeita de forma imediata? De onde emerge e, se emerge, pode reescrever as leis dos sistemas económicos que governam o planeta?

Compreender a posição de Jean Baudrillard de que: «o todo, tão obcecado pela maximização do poder e do sexo, deve ser interpelado quanto ao seu vazio. Dada a sua obsessão pelo poder como uma forma de expansão e investimento contínua, há que colocar-lhe a questão da reversão do espaço do poder e da reversão do espaço do sexo e do seu discurso. Dado o seu fascínio pela produção, há que colocar-lhe a questão da sedução.”2 Talvez Baudrillard esteja a afirmar que as dinâmicas entre produção e sedução são profundas. Ele dedica um tratado a esta ideia em 1979. Para efeitos de análise, temos de categorizar separadamente: poder, sedução, sexo e libido. Voltando agora a este espaço em 2023, vemos uma exposição que enfrenta e abre vias entre estes quatro conceitos. Em última análise, procura uma «libido futura» ou «pós-libido» como remédio e solução para o desejo pós- capitalista: Curiosidade. I am Curious Blue.

Com Kuril Chto, vemos os objectos serem eróticos, ao mesmo tempo que encontramos humor nos códigos de objectificação, alguns meigos e outros pornográficos, que fazem do corpo um território para a análise do estado das coisas. Entretanto, somos desafiados a abordar a Mono Blanc (cadeira de plástico branca), como um arquétipo que exemplifica a sobreposição entre produção (industrial) e reprodução (sexual). Todos têm uma memória desta cadeira de plástico. Cadeiras são extraídas em linhas de montagem, bebés são concebidos a cada 30 segundos.

O plástico é reciclado, as vidas são curtas. E quanto ao riso? E quanto aos pequenos momentos nesta imensa máquina alimentada pelo excesso de desejo? A obra de Chto, exercendo a sua materialidade variada, diz em tom subliminar: brincar. Com Rui Palma, vemos os protagonistas, humanos e não humanos, habitarem os seus ambientes com tenros sistemas nervosos, abertos à mudança. As figuras que ele cria remetem-nos para as palavras do Swami Rama Tirtha:

Vês, hoje conto-te um segredo,
Escuta a confissão dos meus lábios.
Enquanto amante ou ladrão…
Sou uma tempestade que engole
Todas as leis, julgamentos e exames para sempre. O mundo inteiro sou só eu, A ressonar em extâse…
Apanha-me se puderes.

«Enquanto amante ou ladrão… Apanha-me se puderes» – é o desafio que Palma nos propõe. O seu trabalho de fotografia e vídeo são evidentes em si mesmos e não a partir de si mesmos. Ao serem simultaneamente abstractos e figurativos, emerge um misticismo não-binário, uma espécie de canção elucidativa. Como uma ode à mudança. A sua obra é também defensora da magia, ao estar profundamente ligada ao totémico. A reivindicação da inocência, que persiste na obra de Palma, apela a uma espécie de revolução do tacto e do ser tocado pela própria memória. O poético, aqui, como emancipador. A imagem como uma câmara no coração, simultaneamente arrebatada e melancólica.

Então, porquê o azul? O azul, de acordo com a maior parte da teoria das cores, realça a sensibilidade. Vivemos num mundo violentamente saturado de representação. Vivemos também num mundo que exige um grau de «instinto assassino» para sobreviver, que retira a doçura das coisas. Palma e Chto querem essa doçura de volta.

Por outro lado, o título da exposição foi retirado de um filme sueco de 1968, realizado por Vilgot Sjöman e protagonizado por Lena Nyman. O filme é uma crítica a um sistema que privilegia a religião em detrimento da liberdade de expressão sexual. Confiscado à entrada dos Estados Unidos, o filme foi alvo de uma acesa batalha judicial. Foi banido por decisão do Supremo Tribunal dos EUA, que classificou o filme como obsceno – e, portanto, sujeito a

regulamentação estatal. Passados 34 anos, a Criterion disponibilizou-o com uma entrevista ao realizador. O filme permanece na esfera pública.

O que interessa neste filme e no diálogo entre as obras de Kuril Chto e Rui Palma não é a constatação da possibilidade transgressiva da arte, mas sim a delicadeza do acto criativo (criar, fazer nascer, trazer ao mundo) no contexto de um sistema que ignora as coisas e se aproveita delas. Haverá sempre opressão, e a questão mantém-se: cultivaremos novas relações entre os nossos corpos e a nossa sexualidade? Actuaremos sobre a nossa curiosidade? Continuaremos “blue”?

-Josseline Black