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Abalo II
Nádia Duvall
[27/09/18 - 06/10/18]

Foco Galeria Abalo II

Vista da Exposição

Foco Galeria Abalo II

Vista da Exposição

ABALO
o segundo

A pele encobre profundas revelações. E, quando se revela…. É um abalo quase impossível de olhar… Os olhos e a boca são engolidos, enquanto que o ser (na sua imensa elasticidade) curva-se sobre si mesmo, perante o seu corpo vazio…. completamente despojado. O mundo existe e deixa de existir. É tudo. É nada. É uma imensidão…um grito. Surge o riso, o choro e talvez (com sorte) a morte.
As memórias são a minha cruz. Carrego-as penosamente ora ansiando ora temendo a amnésia. Memórias… Tudo se revela através delas e no entanto toda a ficção brota louca desse lugar mnemónico. O que é real? O que é ficção? Quem sou eu? Que processo é exigido para que a pele se dispa e se revele? Para que o corpo dance nu até morrer de orgasmo?
Nesta exposição são-nos re-veladas as várias intermitências da pele e dos seus respectivos processos. O non sense é colhido e composto numa instalação, onde coletivamente adquire significados, do nada passa a tudo, ou pelo menos a qualquer coisa. É uma máquina epilética: uma mostra esquizofrénica de olhos arregalados.
Esta instalação é uma alegoria ao meu próprio atelier. Foi organizada e inspirada nos quartos dos heterónimos que habitavam esse lugar. É uma exposição desse espaço íntimo, escuro e primordial onde a luz se revela deixando portas em aberto.
Aqui vemos alguns vislumbres de rostos. São as faces de cada uma das mulheres que me habitam. Nesse instante, captado por polaroids elas revelam-se: Alice, Mar, Odette, Emily, Matilde, Louise, Helena, Magda, o Demónio-Pássaro e por fim Constança, recentemente falecida.
No fim do percurso… o vácuo. Já não é uma mimese do meu atelier.

VÁCUO.

CAIO.

Sou sacudida por memórias e uma estranha sensação de reconhecimento:
numa cama branca, uma escultura repousa. Uma traqueia ou uma coluna vertebral? Talvez seja o que sobrou de um corpo que saiu correndo, eufórico…

Aos pés da cama descobrimos um carro vermelho de brincar, uma memória de Alice. À cabeceira um instante do corpo do Demónio-Pássaro, autopsiado. É um morto-vivo.

As vozes falam. Gritam. Preciso sair para as escutar.
São elas. São minhas. Talvez não sejam… Talvez apenas O sejam.
É um corpo a sete vozes e berros de um pássaro… daqueles que gritam porque não sabem cantar…daqueles jurássicos que engolem um Homem por inteiro. Escutamos…ouvimos…
As vozes são cada vez mais fortes e intensas. O Demónio-Pássaro não pode sair…É proibida a entrada! Temo o que pode acontecer com a sua saída…

“Olhos cegos, olhos cegos, o ânus está prestes a parir!” [disse Constança, dissertação, p.99]
Memórias, ficção, desejo… é o processo da pele, um processo de intermitências,
um processo de amor,
um processo de morrer…
…vezes e vezes sem conta…

texto por Emily Ham