Lisboa Não Sejas Francesa (Parte 1)
Em 1952, Amália Rodrigues, ícone atemporal do fado e da cultura portuguesa, cantou Lisboa Não Sejas Francesa. Embora a canção alerte contra a influência estrangeira, particularmente da cultura francesa, ela é, acima de tudo, um apelo à preservação da identidade e das raízes portuguesas. Essa referência serve como uma metáfora para uma cidade que, apesar de sua abertura ao mundo, busca manter sua essência e singularidade em meio à modernidade e à globalização.
Reunindo obras de 13 artistas portugueses e internacionais, Lisboa Não Sejas Francesa (parte I) apresenta um retrato multifacetado de Lisboa pelos olhos daqueles que vivem e criam na cidade. Através de diferentes mídias—escultura, pintura, fotografia e instalação em vídeo— a exposição explora a tensão entre tradição e transformação, herança e reinvenção. Cada obra atua como um fragmento de Lisboa, capturando as suas camadas de história, paisagens em evolução e as forças contemporâneas que moldam a sua identidade. Estamos convidados a uma exploração poética e a uma imersão em um mundo onde memória, tempo e matéria se entrelaçam com graça.
A exposição conduz-nos por uma contemplação sutil da relação entre o íntimo e o cósmico, o humano e o universo. Cada peça nos convida a mergulhar em domínios suspensos, onde os ecos do passado e os sussurros do futuro colidem, o intangível se torna real, e cada movimento criativo compõe um pedaço da história em constante transformação. Lisboa Não Sejas Francesa (parte I) explora as vastas forças que moldam a Terra e a alma humana através de instalações que combinam astronomia, geologia e natureza. A matéria, seja pedra, bronze ou luz, torna-se portadora de memória, recordando-nos as conexões profundas entre o tempo geológico e a memória individual. Como marcas deixadas por forças invisíveis que reverberam pelo espaço, as obras parecem incrustadas em um mundo em contínua mudança.
No cerne desta pesquisa, as fronteiras entre a vida quotidiana, a arquitetura e o mundo natural se dissolvem, e cada forma orgânica reflete uma realidade maior, que oscila entre o real e o fantástico. Textura, cor e luz misturam-se para criar atmosferas líricas, onde a infinitude das estrelas e a fragilidade da vida humana coexistem. É através dos seus gestos que os artistas nos guiam por esse movimento do espaço, onde emoção e pensamento se encontram, onde a matéria se torna veículo de uma reflexão poética e filosófica.
A exposição também se desenrola como um diálogo entre passado e futuro, entre o vivido e o invisível, apresentando obras que questionam a natureza da memória coletiva e a intrusão das tecnologias modernas. Ecos digitais, vestígios do mundo contemporâneo, tornam-se cores e formas, numa tentativa de estabelecer a distância entre a narrativa pessoal e a memória coletiva. Neste dinamismo, o mundo em que vivemos reflete a nossa consciência, as nossas emoções e os nossos pensamentos.
Lisboa Não Sejas Francesa (parte I) convida-nos a olhar para Lisboa de forma diferente, como um ser vivo transformado pelo tempo e pelas energias que a atravessam. Cada obra de arte, à sua maneira, fala-nos da cidade como algo mais complexo do que um simples espaço geográfico; Lisboa é um organismo em constante evolução, onde passado e futuro coexistem. Esta exposição torna-se uma viagem na qual exploramos o invisível, ressoamos com os ritmos da cidade, da natureza e do cosmos. Um convite aberto para sonhar, sentir e viver Lisboa em sua totalidade, em toda a sua beleza complexa e mutável.
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Esta exposição marca a primeira fase de um intercâmbio artístico entre Lisboa e Paris, promovendo um diálogo intercultural entre as duas capitais. Enquanto Lisboa Não Sejas Francesa (parte I) acontece no Atlas, em Paris, uma exposição paralela (parte II) será apresentada no Foco, em Lisboa, destacando o trabalho de artistas franceses. Esta dupla exposição apresenta as cidades não como rivais, mas como reflexos uma da outra, explorando como a arte une passado e futuro, tradição e reinvenção.
Artistas participantes (Atlas | Paris):
Clara Imbert (FR), Francisco Trêpa (PT), Gabriel Ribeiro (BR), Hugo Cantegrel (FR), Luísa Salvador (PT), Manon Harrois (FR), Manuel Tainha (PT), Márcio Vilela (BR), Maria Appleton (PT), Mia Dudek (PL), Nádia Duvall (PT), Pauline Guerrier (FR), Rudolfo Quintas (PT).
Inauguração a 20 de março no L’Atlas | 4, cour de l’Île Louviers 75004
Idealizado e promovido pela Emerige, o L’Atlas recebe galerias, fundações e instituições internacionais para apresentar um ou mais artistas de cenas artísticas contemporâneas sub-representadas em França.
Em parceria com figuras-chave do panorama da arte contemporânea global, o L’Atlas propõe um modelo inovador: uma curadoria conjunta de cinco exposições anuais entre o departamento de projetos artísticos da Emerige e os parceiros convidados. Estas exposições são acompanhadas por uma programação cultural, visitas guiadas e workshops educativos dirigidos a um público amplo.